Sonhos de Natal I

"...all I want in Christmas is you..."


Acordei cedo.Mais um dia começou com um brilho especial que pairava no ar. Cheirava a rabanadas e a azevias de feijão. Olhei em volta e estava escuro..ergui os meus olhos ensonados para o lado e lá estava o meu primo, com os seus recém 19 anos acabados de fazer. Percorri o olhar para o fundo do quarto, onde vi o meu irmão a erguer o seu último sorriso perante um último sonho, antes de acordar.

Fiquei à escuta. Ouvia o som surdo das panelas vindo da cozinha da minha avó, juntamente com vozes femininas docemente açucaradas com risos.. era a minha mãe, as minhas tias e a minha avó. Acordei com calma e logo me vieram à mente as imagens do dia anterior: um dia de festa, a Festa de Natal, onde eu e a minha família haviamos festejado este dia 24 para 25 de Dezembro concomitantemente com o aniversário do meu primo. Recordava-me vagamente das brincadeiras que eu e os meus 7 primos e primas - alguns dos quais dormiam nos quartos ao lado - onde tinhamos feito um teatro, dançado, trocado presentes..
Sentei-me na cama e logo consegui sentir um frio que quebrava a circulação. Bbrrrr... Onde estava?? Ah, pois, na Serra da Estrela! Havia neve lá fora... Fiquei assustada. Lembrei-me que no dia anterior o meu primo se havia declarado a mim e agora esperava uma resposta. Os seus olhos azuis-violáceos eram de uma beleza fascinante, as suas pestanas carregadas de um preto farfalhudo e a sua cara docemente coberta por uma tez morena, fizeram-me pensar e repensar no que se passara no dia anterior. Olhei para ele. Agora respirava com suavidade... o menino com o qual eu brincara em criança tornara-se um homem agora. Era a pessoa que gostava de mim e me confessara que a sua carreira de futuro escritor nada seria sem a minha presença.
Com um suspiro saí do quarto e tomei um banho quente. Vesti uma camisola de lã branca, uma saia fascinantemente colorida com cores de Inverno, o cabelo castanho a correr-me pelas costas e um cachecol verde-tropa. Quando regressei à sala aí estava ele, sentado na sala a falar e a brincar com os seus irmãos pequenos, enquanto que eu cumprimentei toda a família e devolvi um abraço ao meu avô, que docemente mo tinha oferecido...
Precisava de esclarecer as coisas. Precisava de lhe dizer que lhe agradecia muito a sua amizade, precisava de lhe dizer que nunca mais esqueceria as nossas brincadeiras de criança, precisava de lhe atirar com uma bola de neve à cara e rir-me alegremente de tal... precisava de esclarecer.. tanta coisa...
Após o pequeno almoço, a saída pelas escadas revelou-se encantadora! Abracei a minha prima pequenina, a minha princesa, e disse-lhe que tinha de ir falar com o primito... Ninguém deu por nós, pelo que escapulimos a rir e a correr, como fazíamos em crianças quando brincávamos às escondidas!!
"Não!!! Não podia ser... Eu gostava de outra pessoa...porque lhe estava a dar esperanças?", pensava eu. E era verdade. Não podia magoar alguém que eu considerava como irmão..que sentimentos estes que eu lhe provocara..que confusão esta entre os nossos pensamentos!!!
Andámos por uma floresta durante alguns momentos, nos quais eu não podía deixar de olhar para a neve sulcada pelos nossos pés. Ouvia-o cantar alegremente como fazíamos em crianças e dei por nós a dialogar algumas das deixas que havíamos decorado para o teatro do dia anterior. Precisava de esclarecer tudo antes que fosse tarde mais... Mas não conseguia. A ideia que poderia fazer o meu "irmão" triste era maior do que eu. Sim, porque a pessoa que tinha ao lado, que sempre me acompanhara desde os meus tenros anos, era para mim como um irmão.


(continua... em Sonhos de Natal II)

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