CARTA


... Passou um ano ... e com ele passou mais uma etapa das nossas vidas...Até parece mentira! Mas a verdade é que estamos de novo em Janeiro, aquele belo mês no qual nos conhecemos.E o mais interessante de tudo é que tendo passado tanto tempo, a memória que tenho de ti não se transforma, continua imutável, serena, algures bem presa sob as redes neuronais desta caixinha cinzenta à qual eu chamo de cérebro. Sabes, ainda me lembro... sim... ainda me lembro dos sonhos que consegui percorrer contigo, naquele chuvoso dia de Janeiro, no qual me abordaste, qual turista francês, de olhos piegas e doces, com um azul celeste brilhante! Ficaste tão surpreendido de teres alguém à tua frente que entendesse a tua língua tão bem como um cidadão do teu país.. "Merci"!..pirragueaste tu, enquanto eu me oferecia para te dar uma explicação detalhada sobre a cidade de Lisboa. E.. a partir daí... parece que tudo mudou na minha vida. Porquê? Não sei bem, mas senti-me acompanhada, confiante, embora não entendesse o motivo que me levaria eventualmente a ficar presa a alguém que não conhecia.Bem, mas estou aqui a escrever-te para te pedir desculpas pelo que aconteceu a seguir. Parece ironia do destino, mas ultimamente isso tem acontecido com alguma frequência; parecer aos meus amigos que tenho outro tipo de interesse neles, pelo simples facto de ser tão aberta, disponível e bem disposta com toda a gente, tendo de contradizer qualquer tipo de interesse por eles. Eu sei o que deves ter pensado: que eu estava interessada em ti. Mas como podia isso ser? Uma simples jovem de 17 anos interessada num turista francês com 23 anos! Além disso, só este ano saí do colégio de freiras no qual vivia até agora, que fiz 18 anos.

Durante a tua ausência, percorri, por várias vezes, o vale da tristeza: tentava negar qualquer interesse na tua pessoa, tal como o fiz em todas as cartas não endereçadas que te escrevi durante estes tempos, na qual te disse precisamente isto. Mas chegou a altura de esclarecer as coisas: eu não fiz mais do que me enganar.

E estava coibida... As irmãs aqui são rigorosas e não admitiriam que eu tivesse qualquer tipo de relacionamento com alguém do exterior.. Sabes o que é ser, desde os 7 anos de idade, conduzida com outras meninas pelos corredores de um convento, lavar o chão, fazer as camas das veteranas, vestir a roupa que ninguém quer, não saber quem são os nossos pais? Sabes o que é olhar para a chuva cair e entender que alguém, ao fim de 17 anos de existência, é uma das únicas pessoas que se preocupa connosco, não podendo, no entanto estar com ela? Sabes o que é esconder as lágrimas para que as nossas colegas de camarata não destruam a pouca esperança que temos na vida?Hoje, neste dia também chuvoso, quero dizer que finalmente entendi que aos poucos andava a estragar a minha própria felicidade. E sabes quando é que eu entendi isso? Quando vi que me estava a tornar numa "mulher", quando fiz os meus 18 anos e por fim saí do convento. Quando entrei para a faculdade que tanto almejava..e tive a necessidade de finalmente entender que o grande trampolim para eu ter precorrido tudo e ter corrido o mundo atrás do meu sonho foi a memória de um simples turista.Sabes, vou contar-te um segredo: quando entrei para a faculdade, olhei para o céu e agradeci-te 1000 vezes por a tua presença ser invisível mas tão poderosa. Jurei a mim mesma que te procuraria. Jurei a mim mesma que não deixaria o tempo passar mais. E jurei que nunca mais te haveria de mentir. Agora, que estou mais perto de ser pediatra e vivo num pequeno quarto, pagando a renda com a bolsa que recebo e o part-time que faço todos os fins-de-semana, estudo na esperança de te ver de novo... e desta vez... não voltar a negar o que sempre senti.É verdade que às vezes me sinto perdida. Acordo de noite preocupada por dormir num quarto sem o barulho do som das minhas companheiras de quarto, por ter (pouco) dinheiro para gerir, e pelo facto de simplesmente sentir a tua falta... porque..mesmo que não queira, encontro-me sozinha neste mundo.. Tem sido duro

Tudo o que luto e faço, é feito com todas as minhas forças, sem a ajuda de ninguém, com uma grande vontade de mudar o mundo.
Mas acredito que agora tudo poderá ser diferente. Porque do mesmo modo que precisaste de mim há um ano, me valorizaste, me conheceste e me ensinaste a não deixar de acreditar nos nossos sonhos, assim digo eu o mesmo agora. Viverei cada dia com vontade de te ouvir (ao fim de 365 dias), de poder ler a tua letra e de por fim poder dizer que vale a pena, nem que eu tenha de ir a Paris..o que for preciso!!

Eu sei que quando leres esta carta vais fixar estupefacto e baralhado, mas peço-te: acredita em mim!Será uma das muitas vezes que o faremos, aqui nesta cidade, o berço da nossa relação, ou na Cidade das Luzes!




Com Gratidão


(esta história é ficticia mas tem um fundamento real por detrás, que foi vivido por mim neste Verão de 2006 que recordo com saudade! trata-se pois de um "rearranjo camuflado" ..ehhh... característico do mundo dos meus Sonhos!)

Comments

Anonymous said…
pá miuda tens mm um "jeitinho especial" pa escrever... serio.. fantastico

PS: o melhor é mm a xuva.. i love that
estrelinha said…
uau! Se lutares tão bem, qt escreves, tenho a certeza que o vais encontrar ;) * um beijinho
Anonymous said…
Ñ posso deixar de dzr k, apesar de ñ sbr kual o conteúdo real da história, pelo menos deixa-me dzr k m tocou...pela forma como a descreves e pela sinceridade que empregas!

Ass: Rui Nunes
(www.freewebs.com/you_suuuck)
Anonymous said…
Ñ sei k q parte do conteúdo é real ou não, mas sei que a história me tocou...quer pela forma como a descreves quer pela sinceridade q nela empregas. Bjo e contínua a lutar por aquilo em que acreditas. O Sonho Move o Mundo

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