Quando o amor não tem morada

Às vezes ficas sem asas quando deixas de voar naquele que foi o teu conforto. Quando sentes que essa morada deixou de ser tua. Quando tentas ficar calmo, quieto, sereno, sentado no cadeirão e o barulho do silêncio não te deixa descansar. Quando deixas morrer, a história que julgavas ser “a história” da tua vida.


Assim como a fagulha ferra na pele e dói, macera e tinge, assim também é a dor que sentes quando o lume se força a apagar.
O lume do amor, qual vela em fim de vida, contempla, quieto, as “últimas horas”, no desespero de voltar atrás no tempo. O tempo da vivência, qual fugidio, que guardou em si todas as memórias, aquelas que querias que fossem o “agora”. O sossego da inquietação, sentido após o corte da árvore, que recebia vida em suas raízes e água cristalina.


Assim como o frio da noite escura, em que apenas vês a margem do rio beijado pela lua branca, assim ficas quando morre um companheiro de batalhas.
Cruel a vida, as ideias, pensamentos, boatos, contradições e braços-de-ferro, que só trazem desacato. Cruel o coração, que nos engana, qual rival mentiroso, imperfeito e audacioso, que se ri quando caímos. Cruel a lágrima, a corrente de água, das emoções e dos abraços, que perdeste de uma vez para sempre.


Assim como fica a memória, o frio gélido e a inexistência.

Fica a memória do amor. Fica o frio da morte. Fica o gelo do silêncio.

Comments

... said…
falésia de verdade
- February 29, 2008

"O que é a verdade? O que é a tua verdade? Sentas-te ao meu lado, curioso(a), procurando observar o interesse por detrás destas ideias malucas.. "são só ideias", dizes tu. "são os teus 5 sentidos", digo eu. "É o amor", dizes tu, "É o nevoeiro", digo eu...
Amor! Acertaste! A falésia da verdade. Que te aproxima e te distância. Que arde sem se ver. Que magoa e dá carinho. Que corre estando quieta. Silencia, fascinando!... Aquela verdade que te entrega ao que sempre desejaste desde que sabes quem és, aquela conversa que de vés em vés tens de ti para ti, aquela loucura que experimentas, em secreto, mas depois guardas, escondes, como que de algo de errado se tratasse."nevoeiro..", sussuras, o nevoeiro que vais descobrindo, brincando, explorando, maximizando, sentindo....todos os dias.. a verdade que em ti constróis. O que há mais de verdadeiro em ti.
Perdes-te mais uma vez na solidão feliz de um bando à beira-rio, sentes a passagem amena do nevoeiro por ti e de sem perceberes porquê, lanças uma pedra cair na água, vendo as suas ondas flutuarem por entre aquele líquido perfeito que te dá vida.
É quando entendes então que te deixei só, e então me dás razão: aquilo que vês é nevoeiro, flocos de nuvem fresca que te exacerbam o ser e tranquilizam a alma..."
... said…
"Cruel o coração, que nos engana, qual rival mentiroso, imperfeito e audacioso, que se ri quando caímos"

Sim, verdade; as dores do crescimento são impiedosas, porque as vezes descobre-se que aquela ligação que tínhamos com o nosso companheiro de batalhas, tinha a força de um nevoeiro.

Popular posts from this blog

Heaven..Sky is the limit..

"QUERO ouvir" (inspiração...)

FELIZ NATAL