Momentos

Foi. Foi o momento certo. O momento certo para por a limpo o que estava a menos, para não ocultar o que estava a mais, para reciclar o que já não existia, para transformar o que existiu.

O momento certo para passar para a frente, rumar a uma nova paragem, deixar para trás o que não fizera sentido. O momento certo para comer um gelado chocolate-menta sem estar com alguém ao lado, andar de baloiço como as crianças, sem estar acompanhada pelo seu riso, ir para a praia sem ninguém por perto. Sem ti, sem os outros, sem todos, foi o momento.
Foi o momento de ver a chuva quente a molhar a areia branca, aqui em baixo, à beira mar. A sua música fresca e os seus tons musicais, que ecoam e devolvem, em si, a sua profundidade mais simples do seu som.

Foi. Foi este o momento em que me encontrei com a minha companhia, com as recordações, com as músicas e cantei baixinho. Não tens nada a mais do que eu ou menos do que outra pessoa qualquer. Simplesmente falta-te o teu Eu: não tens mais alma, foi roubada.

Esse momento, em que percebi que o descartável invadiu a tua mente, em que usar uma pessoa ou um utensílio têm dimensões iguais para ti, tiraram de ti todo o significado de tudo o que me possas ter dito antes. Cortei. Cortei a corda que estava presa à ancora do porto marítimo. Daquilo que acreditava estar seguro, preso, fixo e quieto. Equivoquei-me.
Agora, vejo. Vejo imagens, episódios, conchas no chão, mensagens no céu de uma tarde radiante, mesmo por cima de mim. Um café quente, com o gosto semi-amargo de uma máquina semi-nova que comprei no bar ali ao lado. Vejo-me a mim, a única pessoa que me pode acompanhar durante toda a minha vida, e mesmo assim, sem nunca a conhecer bem.

SEI para onde vou. E sei que não preciso de intrusos na minha vida. Que quero ficar sem as luzes, as euforias ou mesmo as cores. Quero ficar com o que eu consigo conquistar. Eu conto comigo. Essa é a minha única certeza. Podes ficar. O caminho é teu, vive o descartável se quiseres, não descartes quem vive e merece viver em pleno sentido.
06-Dez-2009

Comments

LittleMe said…
Esses momentos devolvem-nos ao que de mais importante existe. A essência de tudo o que nos completa. A verdade que escondemos tantas vezes, sem saber. Voltar a nós mesmos devolvenos as certezas que haviamos esquecido por algum tempo. Devolvenos a segurança que julgávamos perdida.

Adorei *****
Teu amigo said…
bolas anita... simplesmente magico.. tens o dom da escrita. ler o que escreves e como ver um quatro com pequenas imagens, que a cada frase que escreves, representa uma imagem em que nos reconhecemos e por vezes nos encontramos. ja me tinha esquecido do quanto bom e ler o que escreves. inspiras qualquer um.. parabens!

Adorei!!

don't stop =P

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